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quarta-feira, 1 de julho de 2009

ribamares do fogo



Folha de São Paulo -O que o sr. acha da afirmação do senador Cafeteira de que nomeou seu neto por dever favores a seu filho, Fernando Sarney?
Sarney
-Você acha que eu, como presidente do Senado, tenho minha biografia, vou discutir uma coisa dessa? Não vou discutir um assunto desse. Minha resposta para vocês é essa. [1]


pãrãrãrãram pãrãrãrãram pãrãrãrãram pã pampãram pã pam... há um país se rátátátando às margens plácidas do ipiranga enquanto ti-ti-ti ti-ti-ti shhh marimbondo shhhh atos secretos coisa certa momento incerto certamente estamos tentando apurar assunto de ordem pessoal do congresso desmoralizado em estudo como é que se deve proceder gesto pessoal vamos examinar exaustão do modelo da sobrinha da mulher dos netos fugirá o sol da liberdade em secretos atos fúlgidos no céu da pátria neste instante por essas ditas duras biografias é compreensível que não se sintam obrigados a discutir essa uma e inúmeras outras muitas outras infinitas coisas dessas essas que a investidura pública impõe sejam discutidas por quem representa o povo a mídia as ongs a sociedade civil os eleitos representam esse é o grande problema depois de ter sido se fosse era realmente um que seria se tivesse teria sido a cafeína a cafeteira o confeiteiro há muitas falhas vamos examinar é desejo da sociedade sim claro responsabilidade tudo aponta nesse sentido vida de desafios exercer até o fim não descartem essa hipótese até porque interesses corpo ativos falam os atos não tenho provas em teu meio oh impunidade entregas nosso peito à própria sorte ao caráter sigiloso do ato banal individual e familiar da segurança material isso que espanta shhh marimbondo shhh nossos tristonhos campos tem mais dores nossos bosques tem mais morte e nossa morte em teu seio menos dor ao menos hipocrisia fosse mas falam com certeza e fé jurada posto creem incrivelmente creem na moral e cívica do que dizem e sinceramente creem exatamente é isso a causar alarme e desgosto tamanha dissociação social traz para o futuro a sombra do passado mas se erguessem da justiça a clava forte veriam o filho que não come e luta mas teme quem o entrega à própria sorte onde eu era um voto nos congressos basta quando eu coloquei meu ostraikon na urna como costumavam fazer os antigos gregos ou deveria eu usar um basta vermelho ou um par de orelhas de burro como usavam os antigos eleitores e como eles ousadia foram para a tribuna furiosos zangados quando deveriam estar envergonhados e eu pensei em outros no lugar deles então com meus olhos eu pedi a eles para dizerem basta pelo menos uma vez e então eles me perguntaram se basta diria eu basta meu voto no congresso e primeiro eu me aproximei deles e os trouxe para perto de mim basta para que eles pudessem sentir em meu peito toda a indignação basta e o coração deles pulava feito louco e basta eu disse basta eu direi basta eu estou dizendo basta.
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[1] In jornal Folha de São Paulo p. A4 Brasil Terça-Feira, 16 de junho de 2009 'Sarney diz que não errou e que não deixa presidência'.
N.A - A sintaxe 'onírica' do texto acima é uma imitação do estilo característico e singular de James Joyce em 'Ulisses' e 'Finnegans Wake', e as linhas finais deste texto são uma adaptação das últimas palavras redigidas por Joyce em 'Ulisses'. 'ostráikon' é o nome que os antigos cidadãos de Atenas davam aos pedaços de cerâmica que depositavam em uma urna, após, neles, terem inscritos os nomes dos cidadãos sujeitos, eventualmente, à pena de ostracismo